Laila (Kalki Koechelin) é uma jovem indiana que tem paralisia cerebral. Ao lado de sua mãe (Revathy), ela deixa seu país para estudar na Universidade de Nova York, onde aproveita a oportunidade para exercitar sua independência. Sem fé no amor após ter sido rejeitada por um colega, ela conhece uma jovem ativista (Sayani Gupta) em Manhattan e embarca em uma jornada de descobertas (Duração: 140 minutos).
Robbie é um atleta cego e campeão, sendo sempre o centro das atenções. O irmão dele, Bill, sempre o ajuda em tudo. Quando ambos se apaixonam pela mesma mulher, Bill deverá decidir se desiste do amor por causa do irmão ou luta para ser feliz.
Bernardo Manfredi cursará
filosofia. Por causa de infecção hospitalar, ele também tem transtorno
psicomotor nas mãos e nos braços.
Bernardo superou condições adversas, conquistou lugar na universidade e agora sonha escrever livro.
(Foto: Divulgação)
Bernardo Lucas Piñon de
Manfredi, de 19 anos, foi um dos 77 alunos que tiraram nota mil na redação do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele foi aprovado no curso de filosofia na
UFRJ e na PUC-Rio – escolheu se matricular na universidade particular, porque
conquistou uma bolsa filantrópica que cobre integralmente a mensalidade. O
jovem resume sua história em uma frase: “Sou um vencedor”.
Bernardo foi vítima de uma
contaminação em uma maternidade do Rio de Janeiro. De todos os bebês que
sofreram a infecção bacteriana na ocasião, apenas ele sobreviveu. Seu quadro
melhorou após ser transferido para outro hospital, receber doações de sangue da
irmã e frequentar um centro de reabilitação. Como sequelas, ele tem surdez
severa bilateral (nos dois ouvidos), disgrafia profunda (dificuldade na
escrita) e transtorno psicomotor nos braços e nas mãos.
Seu objetivo de tirar a nota
máxima na redação era, portanto, um desafio. A escrita traz dores nas mãos do
jovem – mesmo assim, ele conta que redigiu 130 textos em 2016, para melhorar
seu desempenho nas dissertações.
“Eu não me cansava, sempre
procurava fazer mais e mais redações, porque era a minha meta tirar nota mil.
Assistia a todas as aulas, não deixava passar nenhuma dúvida e tinha fé de que
eu chegaria lá”, conta.
No Enem, Bernardo teve uma
hora a mais que os outros candidatos para fazer a prova, tanto no sábado quanto
no domingo. Ele escreveu o rascunho da redação, mas levou duas horas e meia
para isso. Quando faltava uma hora e meia, ditou o que havia redigido para que
o transcritor passasse o texto a limpo.
Trajetória
na escola
Bernardo não domina a Língua
Brasileira de Sinais (Libras) – compreende o que as pessoas falam por leitura
labial. “O problema é que aí não veem as minhas dificuldades. Por isso, tive
que lidar com agressões e discriminação”, conta.
Na educação infantil, a mãe
do menino, Carmen Pereira, ficava com ele na escola. “Ela foi a principal
mensageira dos meus problemas para as pessoas. Foi uma luta diária, ninguém
sabia lidar comigo”, diz. “Quando cheguei na alfabetização, uma professora me
assumiu e consegui aprender a ler e a escrever.”
Bernardo Lucas Piñon de Manfredi diz que sua mãe, Carmen Pereira, foi essencial em seu desenvolvimento.
(Foto: Arquivo pessoal)
Bernardo cursou o ensino
fundamental em uma escola pública do Rio de Janeiro. Depois, ganhou uma bolsa
no Colégio Palas, instituição privada. “Passei a viver os melhores momentos da
minha vida escolar, porque os professores me acolheram muito bem, respeitaram a
minha dificuldade, mas nunca me tratavam como um incapaz. Viam em mim uma
capacidade enorme e só me estimularam a seguir em frente”, conta.
No último ano do ensino
médio, concluído em 2016, o jovem foi escolhido como orador da turma. “Não fico
feliz só por isso, mas por poder mostrar ao Brasil e ao mundo que tudo é
possível”, diz.
Mudanças necessárias
Apesar de ter conseguido
concluir o ensino médio e entrar na universidade, Bernardo afirma que a
realidade das pessoas com deficiência ainda é cruel. “Mas é possível mudar. Não
adianta o governo apenas obrigar as escolas a aceitarem esses alunos. É preciso
mudar o padrão pedagógico e estimular a formação de profissionais
especializados e qualificados”, afirma.
“É necessário, sobretudo, que
haja um contato maior com as pessoas que têm deficiência. Só conhecemos e
entendemos isso quando convivemos com elas.”
Planos
“É incrível que, mesmo com
todo o diagnóstico da minha dificuldade de escrever, eu amo contar histórias”,
diz. Ele compõe poemas e crônicas desde os 12 anos. Em 2017, pretende escrever
o primeiro livro – começará em março, mas o roteiro ainda não está definido.
“Só sei que vai ser sobre filosofia.”
Esse é o assunto favorito do
jovem. Ele afirma querer lecionar, porque ama ensinar. “Além de professor,
também desejo ser um filósofo atuante, um antropólogo e um cientista que se
preocupa com a humanidade.”
Greg Louganis é um dos maiores nomes olímpicos da história dos EUA. O filme narra a história da sua vida, desde a infância conturbada, onde iniciaram seus problemas de relacionamento pessoal, principalmente com o pai adotivo, o alcoolismo, a revelação da sua homossexualidade e a luta ao descobrir ser portador do vírus HIV (Duração: 95 minutos).
Márcia Rocha pediu autorização para usar nome em 2013. Presidente da OAB SP diz que certificado é conquista dos direitos humanos em período de retrocessos.
Por Cíntia Acayaba e Lívia Machado, G1 São Paulo
A advogada transexual Marcia Rocha obteve o registro do nome social da OAB-SP (Foto: GloboNews/Reprodução)
O Brasil tem desde esta segunda-feira (9) sua primeira advogada transexual trabalhando com seu nome social.
A advogada Márcia Rocha recebeu a primeira certidão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) São Paulo com o nome social nesta segunda. O Conselho Federal da entidade ratificou a decisão. Para o presidente da OAB São Paulo, a entrega do documento é uma conquista dos direitos humanos em período marcado por retrocessos.
"Em um momento em que o mundo parece apresentar passos para trás na trajetória da civilização, com direitos civis sendo contestados, direitos humanos vilipendiados e discursos de ódio proclamados nas redes sociais, esse espaço traz uma nova luz. Respeita aquele que talvez seja o principal direito, que por incrível que pareça não é direito explícito na Constituição, mas está lá, que é o direito à felicidade. Que todos tenham a possibilidade de exercer esse direito de ser feliz. É isso que se faz hoje com a Márcia Rocha”, disse.
Na cerimônia, Márcia Rocha, falou sobre a importância do certificado . “Morrem pessoas todos os dias por conta unicamente do preconceito. Portanto, a possibilidade de fazer com que as pessoas pensem sobre esse assunto e nos vejam enquanto seres humanos, capazes de trabalhar e de exercer uma profissão com seriedade, como é a advocacia, eu acho extremamente importante”, disse.
Em 2013, a advogada Márcia Rocha palestrava no interior de São Paulo sobre direitos humanos e diversidade sexual, como representante da OAB do Brasil. Ao final da conferência, foi questionada por uma das pessoas da plateia, por qual razão seu nome não constava nos quadros da OAB.
Certidão da OAB traz o nome de registro e o nome social da advogada Márcia Rocha (Foto: GloboNews/Reprodução)
Membro da Comissão de Diversidade e Combate à Homofobia da Ordem desde 2011, ela sempre se apresentou ao público respeitando sua identidade de gênero. No sistema da entidade, porém, constava apenas seu nome de registro.
“Foi até uma coisa meio humorística. Realmente não tem Márcia Rocha mesmo. Poxa vida, parece que sou uma fraude, porque a pessoa procura e não me acha. Isso aconteceu duas vezes. Era uma contradição muito grande. Dava a impressão que a OAB estava sendo conivente com uma falsidade ideológica", recorda.
O fato vivido, ao ser narrado para outro colega da entidade, gerou o pedido para que advogados travestis e transexuais de São Paulo tivessem o direito ao uso do nome social. Feita em 2013, a demanda acabou sendo aprovada nacionalmente em maio de 2016 e a OAB teve 180 dias para adaptar o sistema, o que ocorreu agora em janeiro.
Formada em direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Márcia diz ter consciência de sua identidade feminina desde criança. Aos 14 anos começou a tomar hormônios, mas foi convencida pelo pai, que notou a alteração física, a interromper o processo.
“Eu sou trans desde pequena, mas fiquei escondida no armário a vida inteira. Aos 14 anos meu pai percebeu, eu comecei a tomar hormônio, ele viu, me levou no médico, e eu tive que contar. Eles me convenceram a ficar no armário muito tempo.”
Tal permanência, entretanto, não era absoluta. Márcia atendeu à determinação dos pais, mas nunca escondeu de suas parceiras a transexualidade. Aos 45 anos, com a carreira estabelecida, após dois casamentos e com uma filha, diz que abandonou o “terno e gravata” que lhe foram impostos, e decidiu assumir publicamente sua identidade de gênero.
“Coloquei próteses, já tinha os seios desenvolvidos, mas fiz mais umas mudanças, e aí não tinha mais como esconder. A OAB me convidou para fazer uma palestra, eles gostaram e me chamaram para fazer parte da Comissão de Diversidade e Combate à Homofobia.”
Garantias
Embora não se recorde de ter vivido situações de preconceito no meio profissional, ela defende o nome social como uma segurança.
“Eu tenho tido uma experiência muito boa em cartórios, delegacias, um respeito muito grande. Não tive problema em nenhum desses ambientes. Eu posso dizer, olha, me chame de Marcia, mas é uma coisa informal. Você ter um amparo legal do uso desse nome é bastante importante.“
Márcia acredita que a regulamentação da Ordem é um marco no cenário nacional e tende a ser um caminho na garantia de direitos à população transgênero.
“Pela OAB ser uma entidade extremamente técnica do direito, o fato de ter aceito o uso do nome social, torna-se impossível para qualquer outra entidade de classe argumentar contra. Acho que foi extremamente importante. Cada passo que se dá na direção da igualdade, liberdade, do direito, da saúde, são passos importantes para uma população que sempre foi tão discriminada, tão marginalizada. E ainda é", pondera.
Na Família Bélier todos são surdos - exceto Paula, 16 anos. Ela é uma intérprete indispensável no cotidiano de seus pais, ajudando principalmente no funcionamento da fazenda da família. Um dia, impulsionada por seu professor de música que descobriu seu dom para cantar, ela decide se preparar para o concurso da Radio France. Uma escolha de estilo de vida que significaria para ela ficar longe da família e a inevitável transição para a vida adulta(Duração: 82 minutos).
“É preciso tolerar a diversidade”. Sempre que me defronto com esse tipo de colocação, aparentemente progressista e bem intencionada, fico indignado. Não, não é preciso tolerar.
“Tolerar”, segundo qualquer dicionário, significa algo como “suportar com indulgência”, ou seja, deixar passar com resignação, ainda que sem consentir expressamente com aquela conduta.
“Tolerar” o que é diferente consiste, antes de qualquer coisa, em atribuir a “quem tolera” um poder sobre “o que tolera”. Como se este dependesse do consentimento daquele para poder existir. “Quem tolera” acaba visto, ainda, como generoso e benevolente, por dar uma “permissão” como se fosse um favor ou um ato de bondade extrema.
Esse tipo de discurso, no fundo, nega o direito à existência autônoma do que é diferente dos padrões construídos socialmente. Mais: funciona como um expediente do desejo de estigmatizar o diferente e manter este às margens da cultura hegemônica, que traça a tênue linha divisória entre o normal e o anormal.
Tolerar não deve ser celebrada e buscada nem como ideal político e tampouco como virtude individual. Ainda que o argumento liberal enxergue, na tolerância, uma manifestação legítima e até necessária da igualdade moral básica entre os indivíduos, não é esse o seu sentido recorrente nos discursos da política.
Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.
Marcuse identificava dois tipos de tolerância: a passiva e a ativa. No primeiro caso, a tolerância é vista como uma resignação e uma omissão diante de uma sociedade marcadamente injusta em suas diversas dimensões. Por sua vez, no segundo caso, ele trata da tolerância enquanto uma disposição efetiva de construção de uma sociedade igualitária. Não é este, no entanto, o discurso mais recorrente da tolerância em nossos tempos.
Assim, quando alguém te disser que é preciso “tolerar” a liberdade das mulheres, os direitos das pessoas LGBT, a busca por melhores condições de vida das pessoas pobres, as reivindicações por igualdade material das pessoas negras, dentre outros segmentos vulneráveis, simplesmente não problematize esse discurso.
Admitir a existência do outro não significa aceitá-lo em sua particularidade como integrante da comunidade política. É preciso valorizar os laços mais profundos de reciprocidade e respeito pelas diferenças, o que só o reconhecimento, estágio superior da tolerância, pode ajudar a promover, como ensinou Axel Honneth.
Diversidade é um valor em si mesmo e não depende da concordância dos que ocupam posições de privilégios. Direitos e liberdades não se “toleram”. Devem ser respeitados e promovidos, por serem conquistas jurídicas e políticas antecedidas de muitas lutas.
O que não se pode tolerar é o discurso aparentemente “benevolente” e “generoso” – mas na verdade bem perverso – da “tolerância das diferenças”. Ninguém precisa da licença de ninguém pra existir.